Um certo dia, já idoso, resolveu, por inspiração divina, procurar São Paulo de Tebas: Piedoso homem de nobre linhagem, que vivia na solidão do deserto também, e que desde os 21 anos de idade jamais tinha colocado os olhos sobre qualquer homem ou qualquer mulher. Noticia alguma se tinha dele, pois sua vida decorria em isolamento silencioso. Quando Antão foi visita-lo, em 342, Paulo havia passado noventa anos no deserto e estava com 113 anos de idade. Naquele tempo Antão já estava com mais de noventa anos. Antão andou por todos os lugares do deserto, procurou em cavernas, atravessou oásis, e por fim achou a caverna onde vivia São Paulo de Tebas. Como foi que ele achou? Simples. Estava cansado e deitou para dormir, logo ao acordar viu uma loba semimorta de sede. Foi seguindo tentando encontrar água também. Ao chegar numa caverna a loba entrou e não saiu mais. Antão então percebeu que Deus havia lhe indicado o caminho. Então gritou:
- “Vós que admitis a entrada dos animais do deserto, não a negareis a um filho dos homens! Andei à procura. Encontrei! Agora peço para ser recebido.”
A estas palavras São Paulo saiu da caverna com a loba. Os dois homens cumprimentaram-se, chamando-se pelos próprios nomes, pois Deus havia revelado a ambos. O Senhor havia prometido a Paulo enviar Antão, antes de o chamar a Si, a fim de que ainda pudesse ele falar, ser humano a outro ser humano, depois de nove décadas de silêncio e solidão. Os dois idosos santos conversaram a respeito das coisas da eternidade. Somente uma vez foram interrompidos. Um corvo chegou voando para eles. Trazia no bico um pão e colocou-o diante deles.
- “Vede! – disse Paulo – Deus nos manda nossa comida. Durante sessenta anos recebi cada dia meio pão; mas com a vossa chegada, Cristo dobrou a ração de Seus soldados.”
Terminada a refeição, ambos passaram a noite em oração. Paulo sabia que era sua última oração na terra, pois estava ciente de que a visita de Antão anunciava sua partida deste mundo. Para poupar a seu visitante o espetáculo de sua morte, pediu a Antão que voltasse à sua caverna e lhe trouxesse o manto da Igreja, que recebera de Santo Atanásio. Antão satisfez-lhe o desejo e apressou-se em voltar à sua caverna. Três dias de viajem separavam sua caverna da de Paulo. Longa jornada para tão velho homem! Mas Antão cobriu esta distância com a velocidade dum passarinho. Quando Antão chegou de novo à caverna, encontrou Paulo de joelhos, a rezar.
Ajoelhou-se também para rezar. Mas depois percebeu, pela rigidez do corpo de Paulo, que era um morto que ali estava de joelhos, na atitude de prece. Profundamente pesaroso, Antão tomou o corpo do santo, para preparar o lugar de seu derradeiro repouso. Não tinha instrumento para cavar uma cova. Mas ao circunvagar a vista, sem saber como fazer, viu dois leões que caminhavam em sua direção. Poucos passos adiante pararam e com suas garras começaram a cavar uma cova. Antão depositou o corpo nela e cobriu-o com o manto da Igreja.Depois ajoelhou-se ao lado da cova para chorar a morte de São Paulo. E ouviu o eco de sua voz multiplicado num grande coro de lamentação, e, quando ergueu a vista, viu todos os animais do deserto reunidos em torno do túmulo. Tinham vindo chorar a perda de seu amigo.
"Os Santos que Abalaram o Mundo" - René Fullop Miler
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