Durante quarenta anos correra ela no estádio da altíssima pobreza e já se aproximava do prêmio da vitória final, precedida, porém, de muitos sofrimentos. Com efeito, o vigor de sua constituição física fora abalado, nos primeiros anos, por severa penitência. Enquanto gozava de saúde se enriquecera com os méritos de suas obras, agora enferma se enriquece com os méritos de seus sofrimentos. Pois “é na fraqueza que se revela a força” (cf. 2Cor 12,9).
As filhas, que logo ficarão órfãs, estão em torno do leito da mãe, a quem uma espada de dor lhe traspassa o coração. O sono não as faz retroceder nem a fome as afasta; mas, esquecidas do leito e da mesa, só lhes apraz chorar noite e dia.
Entre elas estava Inês, virgem devota, saturada de amargor das lágrimas, instava com sua irmã que não partisse abandonando-as. Mas Clara lhe respondeu:
- Irmã caríssima, apraz a Deus que eu me vá; tu porém deixa de chorar, pois chegarás diante do Senhor logo depois de mim, e Ele te concederá um grande consolo, antes que eu me aparte de ti.
(Inês era irmã de Clara e havia sido enviada em 1228 ou 1229 a Monticello, perto de Florença, onde foi abadessa. No inicio de 1253 Clara pediu que ela voltasse a S. Damião. Aí Inês faleceu pouco tempo depois de sua irmã.)
Por fim, viram-na debater-se na agonia durante muitos dias, nos quais cresceu a fé de muita gente e a devoção popular; os cardeais a visitavam assiduamente, de modo que era honrada como verdadeira santa. O mais maravilhoso, porém, é que, não podendo durante dezessete dias tomar alimento algum, foi sustentada pelo Senhor com tal fortaleza, que a todos os visitantes confortava no serviço de Cristo.
Estava entre os presentes, Frei Junípero, famoso por suas ardentes jaculatórias dirigidas ao Senhor. Ela lhe perguntou se tinha algo de novo a respeito do Senhor. Abrindo então a boca, ele deixou sair da fornalha de seu coração ardente as chispas de suas palavras chamejantes, e a virgem de Deus, ouvindo-as, recebeu um grande consolo.
Quanto ao resto: quem poderá relatar sem chorar? Estavam presente aqueles dois companheiros de São Francisco: Ângelo e Leão. Em todos havia muita tristeza e devoção à Clara.
Com seus olhos carnais ela contemplou, entre lágrimas, uma visão feliz. Traspassada por uma lança de profunda dor, dirigiu ela os olhos em direção à porta da casa. Viu entrando um coro de virgens, vestidas de túnicas alvas; todas tinham sobre a cabeça uma coroa de ouro. Caminhava entre elas uma que era mais resplandecente que as demais, [...] se difundia tão grande esplendor, que dentro da casa converteu a noite em dia luminoso. Ela se inclinou sobre Clara lhe deu um suavíssimo abraço.
Na manhã do dia seguinte, festa de São Lourenço, aquela alma santíssima saiu do corpo para ser laureada com o prêmio eterno.
Imediatamente espalhou-se a notícia do falecimento da virgem. Toda a população, ao ouvir esse infausto acontecimento, ficou abalada. Homens e mulheres acodem ao lugar, A afluência de pessoas é tão grande que a cidade parece ter ficado deserta.
No dia seguinte, toda a Cúria se põe em movimento:o Vigário de Cristo com os cardeais chegam ao local, e toda a população da cidade se dirige a São Damião.
Erguem o corpo do chão e o conduzem honorificamente, entre hinos e cânticos, entre sons de trombeta e jubilo festivo, a São Jorge. Pois este é o lugar em que o corpo de Santo Pai Francisco foi sepultado primeiro.
Poucos dias depois, sua irmã de sangue Inês também foi para a eternidade. Santa Inês foi ao encontro de Santa Clara.
“Os Escritos de Santa Clara” (editora Vozes – CEFEPAL – Petrópolis – 1984, traduzido por Frei Geraldo Van Buul OFM e Frei Serafim Lunter OFM)
As filhas, que logo ficarão órfãs, estão em torno do leito da mãe, a quem uma espada de dor lhe traspassa o coração. O sono não as faz retroceder nem a fome as afasta; mas, esquecidas do leito e da mesa, só lhes apraz chorar noite e dia.
Entre elas estava Inês, virgem devota, saturada de amargor das lágrimas, instava com sua irmã que não partisse abandonando-as. Mas Clara lhe respondeu:
- Irmã caríssima, apraz a Deus que eu me vá; tu porém deixa de chorar, pois chegarás diante do Senhor logo depois de mim, e Ele te concederá um grande consolo, antes que eu me aparte de ti.
(Inês era irmã de Clara e havia sido enviada em 1228 ou 1229 a Monticello, perto de Florença, onde foi abadessa. No inicio de 1253 Clara pediu que ela voltasse a S. Damião. Aí Inês faleceu pouco tempo depois de sua irmã.)
Por fim, viram-na debater-se na agonia durante muitos dias, nos quais cresceu a fé de muita gente e a devoção popular; os cardeais a visitavam assiduamente, de modo que era honrada como verdadeira santa. O mais maravilhoso, porém, é que, não podendo durante dezessete dias tomar alimento algum, foi sustentada pelo Senhor com tal fortaleza, que a todos os visitantes confortava no serviço de Cristo.
Estava entre os presentes, Frei Junípero, famoso por suas ardentes jaculatórias dirigidas ao Senhor. Ela lhe perguntou se tinha algo de novo a respeito do Senhor. Abrindo então a boca, ele deixou sair da fornalha de seu coração ardente as chispas de suas palavras chamejantes, e a virgem de Deus, ouvindo-as, recebeu um grande consolo.
Quanto ao resto: quem poderá relatar sem chorar? Estavam presente aqueles dois companheiros de São Francisco: Ângelo e Leão. Em todos havia muita tristeza e devoção à Clara.
Com seus olhos carnais ela contemplou, entre lágrimas, uma visão feliz. Traspassada por uma lança de profunda dor, dirigiu ela os olhos em direção à porta da casa. Viu entrando um coro de virgens, vestidas de túnicas alvas; todas tinham sobre a cabeça uma coroa de ouro. Caminhava entre elas uma que era mais resplandecente que as demais, [...] se difundia tão grande esplendor, que dentro da casa converteu a noite em dia luminoso. Ela se inclinou sobre Clara lhe deu um suavíssimo abraço.
Na manhã do dia seguinte, festa de São Lourenço, aquela alma santíssima saiu do corpo para ser laureada com o prêmio eterno.
Imediatamente espalhou-se a notícia do falecimento da virgem. Toda a população, ao ouvir esse infausto acontecimento, ficou abalada. Homens e mulheres acodem ao lugar, A afluência de pessoas é tão grande que a cidade parece ter ficado deserta.
No dia seguinte, toda a Cúria se põe em movimento:o Vigário de Cristo com os cardeais chegam ao local, e toda a população da cidade se dirige a São Damião.
Erguem o corpo do chão e o conduzem honorificamente, entre hinos e cânticos, entre sons de trombeta e jubilo festivo, a São Jorge. Pois este é o lugar em que o corpo de Santo Pai Francisco foi sepultado primeiro.
Poucos dias depois, sua irmã de sangue Inês também foi para a eternidade. Santa Inês foi ao encontro de Santa Clara.
“Os Escritos de Santa Clara” (editora Vozes – CEFEPAL – Petrópolis – 1984, traduzido por Frei Geraldo Van Buul OFM e Frei Serafim Lunter OFM)
Muito triste e pungente. Eu estou triste hoje. Um abraço!
ResponderExcluir