Um viajante perdido no meio de um
deserto estava já quase a morrer de fome e sede quando avistou uma palmeira, á
sombra da qual havia uma fonte de água pura e fresca. Junto da palmeira
encontrou, também, um pequenino saco de couro.
- Seja Deus louvado! – exclamou o
viajante, apoderando-se do seu achado.
- Isto talvez sejam ervilhas, que
me impedirão de morrer de fome.
E, assim pensando, abriu
sofregamente o saquinho, mas, ao observar-lhe o conteúdo, exclamou desapontado:
- Ah, meu Deus!, são pérolas!
Que triste ironia da sorte! O
infeliz sucumbia à fome, não obstante haver achado uma coleção de pérolas que
valiam invejável pecúnia!
Sem se deixar, todavia, vencer pelo
desespero, o viajante começou a orar com fervor; eis que, de repente, aparece,
montando fogoso alazão, um árabe que para ali se dirige nervoso e apressado:
era o dono das pérolas.
Contentíssimo por ter encontrado a
sua valiosa bolsa, compadeceu-se do viajante e deu-lhe pão e fê-lo montar à
garupa e levou-o ao termo da sua viagem, sem que o viajante corresse o risco de
se perder pela segunda vez.
- Reparai – disse o árabe – como
são admiráveis os meios de que se serve a Providência. Lamentei, como uma grande
desgraça, a perda das minhas pérolas. Nada de mais feliz, entretanto, poderia
acontecer. Deus assim o quis, para que, sendo eu obrigado a voltar, chegasse a
tempo de vos trazer o indispensável socorro.
Por meios, na aparência, bem
singelos
Livrai-nos Deus, às vezes, de
flagelos.