A delicadeza de alma pode ser comparada à brancura imaculada do arminho.
Ter uma alma delicada é ter horror a tudo que é grosseiro e vil - o pecado - e, sobretudo, ao pecado que de todos é o mais grosseiro e aviltante, que mancha o pensamento, a memória, a imaginação, o coração, os sentidos. - É detestar não só o que é grosseiro, mas também o que é trivial: trivialidade na linguagem, nas maneiras, nas atitudes, ou se ande só ou se esteja em público, ou à mesa ou em companhia de outros.
Um dos primeiros reis bretões, Meriadec, indo, certa vez, em expedição guerreira, à frente do seu exército, viu à margem de um pequeno regato um animalzinho branco como a neve, que corria desatinado de um lado para o outro, dando mostras duma inquietação estranha. Logo se percebia que ele estava ansioso por alcançar a outra margem do riacho, mas tinha receio de errar o salto.
- Que teria acontecido?
Julgou o monarca que o curioso animal estivesse ferido e parou com a sua comitiva para observar o desfecho do caso.
- Senhor, esclareceu um dos oficiais do séqüito,
aquele animal não está ferido. É um arminho: hesita em atravessar o regato lodacento receoso de macular a sua alvura; prefere morrer a manchar-se. O príncipe destacou-se do grupo que o cercava e aproximou-se do arminho. O animal, tomado de grande pavor, quis lançar-se à água; ao tocar porém no lodo recuou instintivamente. Não. Todo esforço era inútil! Não havia como passar. Então, entre dois perigos, o arminho escolheu o que lhe parecia menor. Deitou-se no chão e aguardou, resignado, que o rei o segurasse. Tomou-o nas mãos o monarca, embrulhou-o em seu manto e limpou-lhe cuidadosamente as patinhas enlameadas.
Dizem que o rei bretão, em memória deste singular episódio, mandou bordar um arminho em suas bandeiras, com esta divisa -
Antes a morte que a desonra. (“Lendas do Céu e da Terra” - Malba Tahan)