Estamos no Sul da França, na árida região do Larzac.
Incrustada na rocha, encontra-se a pequena cidade de Roquefort-sur-Soulzon.
O famoso queijo Roquefort que ali se faz é o resultado de uma feliz conjugação entre as ovelhas do Larzac, as ervas que só vicejam naqueles campos e um acidente geológico ocorrido antes de Cristo, no enorme rochedo de Combalou.
Outrora majestoso, o Combalou, lentamente erodido por olhos d'água, um dia ruiu fragorosamente. Imensos blocos, caindo uns sobre os outros, formaram grutas, algumas enormes. Quando o vento bate nas ruínas do Combalou e penetra pelos vãos das pedras, atinge as grutas muito úmidas, favorecendo assim o aparecimento de uma flora, desconhecida na aridez do Larzac.
Certo dia, nos remotos tempos da dominação romana, um pastor, fatigado da ordenha, castigado pelo sol, recolheu-se em uma das grutas do Combalou. A atmosfera era fresca, corria ali um pouco d'água. Numa pedra depositou seu balde de leite e sobre outra apoiou-se preguiçosamente.
Repousado, resolveu explorar um labirinto - um daqueles vãos por onde corre ar. Surpreso, encontrou outras grutas, muito maiores, de um odor e de um frescor arrebatadores. E nelas se perdeu. Não soube reencontrar seu balde, o que não o incomodou tanto, pois sua descoberta bem valia o leite perdido. Não foi difícil encontrar outra saída para casa.
Dias depois encontrou seu leite. Evidentemente estava coalhado. Mas, sobre ele o vento dos túneis depositara folículos e polens retirados àquela flora rústica. O conjunto fermentara e o produto era um queijo de agradável sabor, até então desconhecido. Provado, ele fez saltar de contentamento as papilas inadvertidas do nosso pastor.
Tinha nascido o Roquefort. As grutas pouco a pouco se transformaram em centros de produção da nova descoberta.
Queijo em francês se diz fromage. Tal é o sutil poder dos grandes queijos sobre as disposições do homem que um estudioso da cultura francesa disse, certa vez, que a palavra bem poderia ser derivada de fro magie: uma forma de magia para encantar o espírito. Não falta jocosidade à observação. Não lhe falta também um fundo de verdade.
No mesmo sentido recordo-me da observação do General de Gaulle, quando chefe de Estado, lamentando-se das dificuldades em dirigir seu irrequieto país: "Não é fácil governar um povo que criou mais de 430 tipos de queijo".
Trechos da colaboração de Nelson Ribeiro Fragelli – Revista Catolicismo – fevereiro 1998
Incrustada na rocha, encontra-se a pequena cidade de Roquefort-sur-Soulzon.
O famoso queijo Roquefort que ali se faz é o resultado de uma feliz conjugação entre as ovelhas do Larzac, as ervas que só vicejam naqueles campos e um acidente geológico ocorrido antes de Cristo, no enorme rochedo de Combalou.
Outrora majestoso, o Combalou, lentamente erodido por olhos d'água, um dia ruiu fragorosamente. Imensos blocos, caindo uns sobre os outros, formaram grutas, algumas enormes. Quando o vento bate nas ruínas do Combalou e penetra pelos vãos das pedras, atinge as grutas muito úmidas, favorecendo assim o aparecimento de uma flora, desconhecida na aridez do Larzac.
Certo dia, nos remotos tempos da dominação romana, um pastor, fatigado da ordenha, castigado pelo sol, recolheu-se em uma das grutas do Combalou. A atmosfera era fresca, corria ali um pouco d'água. Numa pedra depositou seu balde de leite e sobre outra apoiou-se preguiçosamente.
Repousado, resolveu explorar um labirinto - um daqueles vãos por onde corre ar. Surpreso, encontrou outras grutas, muito maiores, de um odor e de um frescor arrebatadores. E nelas se perdeu. Não soube reencontrar seu balde, o que não o incomodou tanto, pois sua descoberta bem valia o leite perdido. Não foi difícil encontrar outra saída para casa.
Dias depois encontrou seu leite. Evidentemente estava coalhado. Mas, sobre ele o vento dos túneis depositara folículos e polens retirados àquela flora rústica. O conjunto fermentara e o produto era um queijo de agradável sabor, até então desconhecido. Provado, ele fez saltar de contentamento as papilas inadvertidas do nosso pastor.
Tinha nascido o Roquefort. As grutas pouco a pouco se transformaram em centros de produção da nova descoberta.
Queijo em francês se diz fromage. Tal é o sutil poder dos grandes queijos sobre as disposições do homem que um estudioso da cultura francesa disse, certa vez, que a palavra bem poderia ser derivada de fro magie: uma forma de magia para encantar o espírito. Não falta jocosidade à observação. Não lhe falta também um fundo de verdade.
No mesmo sentido recordo-me da observação do General de Gaulle, quando chefe de Estado, lamentando-se das dificuldades em dirigir seu irrequieto país: "Não é fácil governar um povo que criou mais de 430 tipos de queijo".
Trechos da colaboração de Nelson Ribeiro Fragelli – Revista Catolicismo – fevereiro 1998
Eu amo de paixão saber a origem de tudo. Esse post é maravilhoso! Espetacular! Aqui em casa somos apaixonados por este queijo. Linda história! Abração!
ResponderExcluirEu tambem me interesso em saber a origem. Há muita coisa interessante para ser dita. Fique com Deus.
ResponderExcluirBela postagem.
ResponderExcluirNão me lembro de ter experimentado esse queijo,parece com o Gorgonzola que eu gosto muito.
Aqui em casa,já fiz queijo fresco,meia-cura além de manteiga,pão e lingüiça.
O gorgonzola fica ótimo com vinho,o Roquefort também deve ser gostoso acompanhado com vinho.
O Mercado Municipal de São Paulo é um ótimo lugar para quem procura variedade e boa qualidade de queijos nacionais e importados.
Já pensaram no fato de que o queijo é um alimento "vivo"?
Abraços
Meu grande amigo Maximiano. Obrigado pelo comentário e pela dica do Mercado Municipal, conhecido tambem como "Mercadão". O Gorgonzola (alias, queijo muito delicioso) é a versão italiana do Roquefort, feito originalmente na Cidade de Gorgonzola - Itália. Esses queijos, também chamados queijos "azuis" pela flora de sabor excepcional, são muitos. Cada qual tem uma textura e um tipo particular de feitio.
ResponderExcluirMaximiano, esqueci de dizer que voce está de parabéns pelos queijos, pão manteiga e linguiça que fez. Isso é muito bom. Nada como provar um alimento "caseiro" e todo artesanal. Sempre fica um pouco de sí, quando se faz alguma coisa. Assim também é o alimento. Parabéns. Não sabia que o queijo é um alimento vivo. Obrigado pelo ensinamento.
ResponderExcluirA coisa que mais me encanta no mundo, é a possibilidade de aprender, eu simplesmente adorei saber, e que gostoso não? obrigada meu amigo
ResponderExcluirAgradeço Cris França, sua visita e seu comentário. Aprendi muito no seu blog também http://cantodecontarcontos.blogspot.com aquele banquinho no meio da grama rodeado de flores é bem sugestivo para quem gosta de contar histórias. Melhor contar histórias comendo um bom queijo. Obrigado amiga.
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