No palácio da princesa de Lorena havia freqüentes reuniões compostas geralmente de pessoas que se distinguiam pelo saber, por suas virtudes, ou pelo prestígio das posições elevadas que desfrutavam.
Lá foi ter, um dia, o célebre matemático D’Alembert, homem sem crença religiosa, amigo íntimo de Voltaire. Professando as mesmas péssimas doutrinas desse filósofo, desejava propaga-las entre as pessoas mais importantes, e, quando o salão da ilustre princesa se apresentava repleto de convidados, o impiedoso homem vangloriou-se, publicamente, das suas opiniões irreligiosas, dizendo:
- Sou eu o único, neste palácio, que não crê em Deus e por isso não o adora!
Justamente revoltada com essas irreverentes palavras, a princesa de Lorena replicou-lhe com desassombro:
- Engana-se, sr. d’Alembert. O senhor não é o único que, neste palácio, não crê em Deus, nem o adora.
- Julgava-me sozinho e tenho companheiros – replicou o ateu. – Quem são os outros, senhora princesa?
- São todos os cavalos e cães, que estão nas cavalariças e pátios desse palácio.
- Assim me iguala aos irracionais? – tornou D’Alembert com indisfarçável ironia.
- De modo algum – discordou a inteligente princesa. – Bem sei que os irracionais, embora tenham a desgraça de não conhecer nem adorar o Ser Supremo, não têm, todavia, a imprudência de vangloriar-se disso.
As palavras irrespondíveis da princesa de Lorena deixaram o vaidoso incrédulo confuso e humilhado.
Triste, profundamente triste e deplorável, é, no mundo, a situação do ateu. É como um saltimbanco que faz exercícios incríveis na corda; salta e dança suspenso no vácuo; gira de cabeça para baixo no trapézio; exibe, enfim, ao público, proezas tremendas, mas ninguém fica com vontade de imitá-los.
O ateu, na obsessão em que vive, procura convencer os outros para se persuadir a si próprio.
Quem pode negar Deus diante do céu estrelado ou diante da sepultura de um ente querido é muitíssimo infeliz ou muitíssimo culpado.
(D.)
Fonte: Lendas do Céu e da Terra.
Saudades , amigo! Saudades!
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