quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O hipócrita

Há muitos anos, numa grande exposição de pinturas, realizada em Londres, um artista apresentou um quadro que lhe deu farta notoriedade.

Quem observasse, de relance, a pintura, tinha impressão de que ela representava um homem de fisionomia serena ajoelhado, tranqüilo, em atitude de prece, as mãos postas e a cabeça baixa.

Aproximando-se, porém, da tela, e procurando distinguir bem os traços do indivíduo, verificava-se, com espanto, que o artista, graças a um artifício inimitável, fixara um homem de rosto irascível, que espremia um limão dentro de um copo. O genial pintor conseguira naquela arrojada fantasia simbolizar o coração do hipócrita.

Na verdade, superficialmente examinado, o hipócrita surge aos nossos olhos como um indivíduo piedoso, os olhos voltados para Deus; mas tudo nele é falso. Quando não finge piedade, outra coisa não faz senão espremer no copo do vício o limão do Pecado.

Os hipócritas não servem a Deus; servem-se, porém, de Deus, para enganar os homens.

O hipócrita é um santo pintado: tem as mãos postas, mas não ora; o livro diante dos olhos, mas não lê.

O pior dos homens é aquele que sendo mau quer passar por bom; sendo infame gaba-se de virtude e pundonor.

A cartilha dos maldizentes foi sempre hipocrisia. O hipócrita, como as abelhas, tem mel nos lábios, mas traz oculto o aguilhão.

Se o mundo despreza o hipócrita, o que pensarão dele no céu?

Devemos, a todo momento, fugir do hipócrita e do falso amigo.

Um falso amigo, semelhante a um homem perverso, é mais perigoso que um fabricante de moeda falsa: este faz mal aos nossos bens de fortuna, aquele expõe-nos a mil desgraças em tudo quanto nos diz respeito. O que encontra um falso amigo cai na maior desgraça, tanto mais lamentável quanto é por nós menos conhecido.

Um sábio da Antiguidade costumava dizer: “Dos meus inimigos defendo-me eu mesmo; porém, dos falsos amigos, só Deus de poderá defender”.

Autor: (D.)
Lendas do Céu e da Terra

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