domingo, 15 de agosto de 2010

O nosso inimigo


O velho ratão que vivia no bosque mandou o filho em busca de comida; recomendou-lhe, porém, que se guardasse do inimigo. O ratinho, na primeira curva do caminho esbarrou, de repente, com um galo; voltou correndo ao pé da mãe, transido de susto, e descreveu o inimigo como um bicho soberbo, de crista arrogante e vermelha.

– Não é esse o nosso inimigo - sentenciou o ratão.

E ordenou ao filho que saísse outra vez. O segundo encontro do ratinho foi com um peru, que o deixou meio morto de pavor.

– Minha mãe – lamuriou ele, arquejando – vi um demônio enorme e emproado, de olhar terrível, pronto para matar.

Também não é esse o nosso inimigo - tranqüilizou-o a mãe, com docilidade comovida. - O nosso inimigo caminha silencioso, de cabeça baixa como uma criatura muito humilde, é macio, discreto, de aparência amável e deixa a impressão de ser inofensivo e muito bondoso. Se topares com ele, toma cuidado! Fujamos, pois, desse perigoso inimigo de aparência amável, que se finge solícito e prestativo e que, no entanto, só deseja a nossa ruína e a nossa perdição.

Essa interessante fábula foi por Kobriner apresentada para ilustrar o Salmo 10:9-10 (Arma ciladas em esconderijos, como o leão no seu covil; arma ciladas para roubar o pobre; rouba-o colhendo-o na sua rede. Encolhe-se, abaixa-se, para que os pobres caiam em suas fortes garras) Cfr. L. Browne, ob. cit., pág. 506.
Malba Tahan - Lendas do Povo de Deus

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