sábado, 25 de novembro de 2017

A obra da providência

Um viajante perdido no meio de um deserto estava já quase a morrer de fome e sede quando avistou uma palmeira, á sombra da qual havia uma fonte de água pura e fresca. Junto da palmeira encontrou, também, um pequenino saco de couro.

- Seja Deus louvado! – exclamou o viajante, apoderando-se do seu achado.

- Isto talvez sejam ervilhas, que me impedirão de morrer de fome.

E, assim pensando, abriu sofregamente o saquinho, mas, ao observar-lhe o conteúdo, exclamou desapontado:

- Ah, meu Deus!, são pérolas!

Que triste ironia da sorte! O infeliz sucumbia à fome, não obstante haver achado uma coleção de pérolas que valiam invejável pecúnia!

Sem se deixar, todavia, vencer pelo desespero, o viajante começou a orar com fervor; eis que, de repente, aparece, montando fogoso alazão, um árabe que para ali se dirige nervoso e apressado: era o dono das pérolas.

Contentíssimo por ter encontrado a sua valiosa bolsa, compadeceu-se do viajante e deu-lhe pão e fê-lo montar à garupa e levou-o ao termo da sua viagem, sem que o viajante corresse o risco de se perder pela segunda vez.

- Reparai – disse o árabe – como são admiráveis os meios de que se serve a Providência. Lamentei, como uma grande desgraça, a perda das minhas pérolas. Nada de mais feliz, entretanto, poderia acontecer. Deus assim o quis, para que, sendo eu obrigado a voltar, chegasse a tempo de vos trazer o indispensável socorro.

Por meios, na aparência, bem singelos
Livrai-nos Deus, às vezes, de flagelos.
                          
Fonte: Lendas do Céu e da Terra – autor (D.)

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A existência de Deus

Questionavam, certa vez, sobre assuntos religiosos, um árabe e um ateu. Em dado momento o ateu, julgando que poderia confundir e perturbar o seu interlocutor, interrogou-o:

- Como podes crer na existência de Deus, se não o vês?

O filho do deserto respondeu:

- Quando vejo na areia as pegadas de um leão, digo: “Passou por aqui um leão”. Não vejo a fera, mas tenho certeza de sua existência como se a tivesse diante de meus olhos. Do mesmo modo, quando vejo impresso nas criaturas o selo de Deus, não vejo o Criador, mas tão certo estou de sua existência como se o visse. Não é o selo do homem ou do acaso que eu vejo no disco rutilante do sol ou na mais pequena flor da tamareira, mas o selo de uma potência, de uma sabedoria e de uma bondade infinitas, o selo de Deus; e por toda parte o vejo como vejo a minha imagem diante de um espelho de admirável perfeição.

O incrédulo não soube o que responder, vencido pelas eloquentes palavras de seu antagonista.


Fonte: Malba Tahan