quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Deus, por misericórdia, me perdoe!

Ainda que o Senhor me tenha reprovado quanto quiser, eu sei que Ele não pode negar-se a quem O ama, e a quem de todo coração o busca.

Eu O abraçarei com o meu amor e sem me abençoar não O deixarei; sem me levar consigo, Ele não poderá ausentar-se.

Se mais não puder, ao menos esconder-me-ei dentro das Suas Chagas, onde ficarei para que me não possa encontrar fora de si.

Finalmente, se o meu Redentor por causa de minhas culpas, me lançar fora dos seus Pés , eu me prostrarei aos Pés de Maria , Sua Mãe, e deles não me afastarei, enquanto Ela não me alcançar o perdão.

Por ser Mãe de Misericórdia, nem recusa, nem jamais recusou compadecer-se de nossas misérias, e de socorrer os infelizes que lhe imploram o auxilio. E assim, senão por obrigação, ao menos por compaixão, não deixará de induzir O Filho a perdoar-me.

Oração de São Boaventura (livro “Glórias de Maria”, de Santo Afonso Maria de Ligório)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O fogo da cólera

Levava São Frei Gil um cântaro às costas e, em caminho, encontrou um homem que lhe pediu de beber. O santo, abstraído em seus pensamentos, nem ouviu o pedido, nem se deteve.

Enfureceu-se o homem. Agrediu o santo com palavras ásperas e grosseiras.

São Frei Gil voltou-se, veio ao encontro do exaltado viajante e ofereceu-lhe o cântaro.

Disse-lhe o homem:

- É singular o teu procedimento. Quando delicadamente te pedi um pouco d’água nada obtive. Recorro à grosseria e tu me ofereces todo o conteúdo do teu cântaro.

Respondeu o servo de Deus:

- A princípio queria apenas saciar a tua sede, agora precisas de toda a água do cântaro para apagar o fogo da cólera que se acendeu em teu coração.

É Jesus o modelo de todas as virtudes, mas principalmente das doçuras; por isso disse Ele: “Aprendei de mim, que sou doce de coração”.

É preciso ter a doçura no interior da alma e exprimi-la nos atos exteriores. Deus não vos pede que não sintais a cólera, porque não está isso no vosso poder; mas pede-vos que não consintais nela. “É da natureza do homem ser assaltado pela cólera” , diz São Jerônimo; “mas é da natureza do cristão não se deixar subjugar por ela.”

São Bernardo diz até que, se o cristão não tivesse ninguém que o contrariasse, devia cuidadosamente procurar quem o fizesse, e pagá-lo a peso do ouro, para ter um meio de praticar o sofrimento e a doçura. Se, pois, encontrais essa pessoa sem gastardes nem ouro nem prata, aproveitai-vos dela para o exercício de uma tão bela virtude.

Sede bons até o fundo d’alma e vereis que os que vos cercam se tornarão bons até as mesmas profundezas. Nada responde mais infalivelmente ao apelo secreto da bondade do que o secreto apelo da bondade vizinha.

Autor: (D.) – Lendas do Céu e da Terra